Flores jogadas no Ganges se transformam em incensos sustentáveis com tecnologia de empresa indiana

Flores jogadas no Ganges se transformam em incensos sustentáveis com tecnologia de empresa indiana

No dia 12 de novembro começa na Índia o Diwali, a celebração mais importante do ano no país. Durante a festividade religiosa, conhecida como Festival das Luzes, além de enfeitar as casas, trocar presentes e soltar fogos de artifício, os hindus enchem o rio Ganges de flores. 

Foi pensando em combater o desperdício dessas flores jogadas no rio em celebrações como o Diwali, que poluem ainda mais o Ganges, que o jovem indiano Ankit Agarwal teve a ideia de reciclá-las. Sua empresa, a Phool, é a primeira solução lucrativa do mundo para o problema. 

Diariamente, a companhia coleta mais de 13 toneladas de resíduos florais usadas por templos no estado de Uttar Pradesh, onde fica o famoso Taj Mahal, e os transforma em varetas de incenso sem carvão, biocouro e embalagens orgânicas e biodegradáveis, por meio de uma tecnologia batizada de Flowercycling.

A ideia surgiu em 2015, depois de Agarwal ir a outro tradicional festival com um amigo e, impressionados com a poluição do rio sagrado, notaram a quantidade de flores coloridas que eram despejadas ali, com suas cores desaparecendo rapidamente nas águas turvas. “Algo tinha que ser feito sobre isso”, diz o empreendedor no site da startup. 

Então, uma pesquisa mais aprofundada mostrou que grande parte das flores dos templos é carregada de agrotóxicos e inseticidas que, eliminados nas águas do rio, formam compostos tóxicos que suprimem o nível de oxigénio e, assim, ameaçam gravemente a vida marinha.

“Percebemos que nossa missão era reaproveitar esses resíduos provenientes de locais de culto, e assim nasceu a Phool”, conta.

No início, as pessoas não levaram muito a sério a proposta ou não queriam abandonar os resíduos florais. A empresa precisou trabalhar arduamente para mostrar o potencial da ideia. Foram horas e horas apresentando o projeto a partes interessadas até que fosse colocado em prática. 

Um ano e meio depois, em um laboratório improvisado, o incenso de flores reciclado foi concebido e enfim produzido. Aí, a ideia aparentemente simples emplacou.

Hoje, já com seis anos, a Phool é um sucesso. “Templos ortodoxos e autoridades religiosas querem fazer parte da nossa missão, apontando para uma mudança contra uma prática religiosa prejudicial, centenária, de despejo de resíduos de templos no rio indiano”, comenta Agarwal.

E não são apenas incensos. A empresa investe constantemente em pesquisa e desenvolvimento para criar outros produtos a partir das flores recicladas. Ela já fabrica, por exemplo, embalagens biodegradáveis ??e biocouro com esse insumo. Fora o restante do portfólio, todo ligado às tradições hindus e com foco em sustentabilidade. 

Além dos consumidores diretos, a startup tem clientes corporativos de peso, como Microsoft, Google, Pepsico e Kellogg’s, que presenteiam colaboradores e parceiros com as gift box da Phool, não só pela proposta circular, mas também pela beleza e qualidade dos produtos. 

Todos são feitos à mão, caprichosamente, por funcionárias mulheres, e este é outro diferencial importante: a proposta da Phool extrapola a questão ambiental, de preservação do Ganges, e proporciona também capacitação, inclusão e geração de renda a mais de 70 mulheres indianas.

“Somos a génese do novo modelo de economia circular, um fluxo de resíduos inimaginável que aponta para uma mudança de sistemas”, destaca Ankit Agarwal.

Fonte: https://exame.com/negocios/incenso-sustentavel/


07/11/2023

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